Café, espera e posse de carrinhos

Café, espera e posse de carrinhos
Photo by Ümit Bulut / Unsplash

Estou há 21 minutos, contados no relógio esperando por um espresso dentro de um mercado, daqueles gourmet, recém inaugurado.

Há uma evidente bateçāo de cabeças na cafeteria. Não sei se os pedidos estão se acumulando, se o pessoal é novato na função ou tudo isso junto.

Longe de me irritar estou me divertindo com o apego extremo dos clientes com seus carinhos de compra. Como a área do café é cheia de mesas, um desconforto toma conta daqueles que querem um lanche, um suco, um café mas não conseguem se desgrudar de seus carinhos, com compras que nem pagaram ainda.

Será medo de que alguém lhes roube o tempo da escolha daqueles produtos? Será que não fizeram lista e não saberiam repetir as escolhas?

Mais do que essas dúvidas, me deparo com manobras intrincadas para fazer o dito carinho caber ao lado da mesa, ao alcance dos olhos e da mão. Empurra cadeira, afasta uma mesa, desvia da lixeira já abarrotada de embalagens. Um verdadeiro rali.

Até que aparece um sujeito despreocupado. Larga seu carrinho junto da banca de milho verde e ainda senta de costas para o veículo. Como estou sentado bem na entrada, me vejo vigiando... Uma pessoa vem e afasta para escolher a melhor espiga, larga num outro lugar e o dito carinho começa a andar sozinho.

Olho para trás e o dono, ou melhor, posseiro daquela cesta com rodas está calmamente saboreando um empadão, indiferente aos movimentos das suas compras, poucas é verdade.

Depois de chegar o meu café, vejo o dono recuperar a posse do seu largado carinho com a tranquilidade e a serenidade de quem prefere se dedicar a um empadão sem cuidar de carrinho do que tê-lo ao alcance dos olhos em tempo integral.

Nada como a sabedoria dos comedores de empadão.